POR VENÂNCIO BATALHONE

Em setembro, apresentamos o panorama das eleições municipais na Região Serrana do estado do Rio de Janeiro [https://nudebufrj.com/2020/09/22/um-panorama-das-eleicoes-municipais-na-regiao-serrana-do-estado-do-rio-de-janeiro/]. Dando sequência ao acompanhamento, o presente boletim traz os resultados para prefeito e vereadores nas cidades de Petrópolis, Nova Friburgo e Teresópolis, buscando analisar as dinâmicas locais e possíveis convergências com os resultados do pleito na escala nacional.
No boletim anterior, foi analisada a tendência, nas eleições presidenciais, de um progressivo deslocamento do eleitorado da Serra para a direita do campo político, acentuado pelos impactos do golpe de 2016 e da “direitização” da vida política brasileira. No entanto, ressaltou-se que a observação das dinâmicas municipais indicam uma maior influência das lógicas locais, característica recorrente em disputas em cidades do interior. Outra tendência, a partir de 2004, é a fragmentação dos partidos mais identificados com o campo da esquerda, sendo mais comum as candidaturas próprias, em detrimento das coligações mais amplas.
Foi apontada também uma relativa diversidade dos cenários em função do contexto de cada cidade. Destacou-se as manifestações locais de duas tendências nacionais: a desorganização e conflitos internos no campo do bolsonarismo, traduzindo-se em uma fraca presença nas eleições municipais; e a fragmentação da esquerda, diminuindo as chances de vitória e protagonismo eleitoral. A hipótese central era a de um quadro de favoritismo dos partidos de direita tradicionais.
Os resultados pelo país confirmaram esta expectativa, sendo interpretados como um desejo dos eleitores por candidatos mais experientes e partidos mais tradicionais. Observou-se pouco envolvimento de Bolsonaro nas eleições e a derrota de candidatos para prefeito que buscaram mais explicitamente seu apoio, como foi o caso de São Paulo, Rio de Janeiro e Fortaleza. A fragmentação do campo da esquerda, conforme analisado anteriormente, se manifestou na escassa vitória nas capitais.
Outro fenômeno observado foram alguns bons resultados da esquerda nas eleições legislativas, com o aumento das bancadas do PSOL em São Paulo e Rio de Janeiro, e com a eleição de vereadores ligados a movimentos negros, LGBTQI e feministas[1].
Na sequência, serão analisados os resultados do pleito em cada cidade. As fontes usadas foram o site do Tribunal Superior Eleitoral e portais de notícias como o G1, The Intercept Brasil e jornais locais.
Petrópolis
Conforme foi apontado no boletim anterior, o atual prefeito, Bernardo Rossi (PL) tentava a reeleição, com a direita tradicional em torno de sua candidatura. No entanto, o ex-prefeito Rubens Bomtempo (PSB) foi eleito no segundo turno com 55,18% dos votos. Conforme foi analisado, embora o PSB seja identificado como um partido do espectro da esquerda, o sucesso de Bomtempo parece se dar mais por sua posição enquanto liderança histórica da cidade, já tendo sido prefeito nos períodos entre 2001 e 2008 e 2013 e 2016. A disputa entre os dois no segundo turno tem se repetido desde 2012.
PETRÓPOLIS[2] | ||
Prefeito – Segundo Turno | ||
Candidato | Partido (coligação) | Resultado |
RUBENS BOMTEMPO (ELEITO) | PSB (Solidariedade e PROS) | 55,18% |
BERNARDO ROSSI | PL (DEM, MDB, DC, PTB) | 44,82% |
Prefeito – Primeiro Turno | ||
Candidato | Partido (coligação) | Resultado |
RUBENS BOMTEMPO (2° TURNO) | PSB (Solidariedade e PROS) | 23,37% |
BERNARDO ROSSI (2° TURNO) | PL (DEM, MDB, DC, PTB) | 16,75% |
PROFESSOR LEANDRO AZEVEDO | PSD | 16,61% |
ELIAS MONTES | PSL | 11,40% |
JAMIL SABRÁ | PSC (PSDB, PTC, PMB) | 5,05% |
ALEXANDRE GURGEL | Cidadania (REDE) | 4,65% |
CORONEL ARNALDO VIEIRA NETO | PRTB (PMN) | 3,78% |
MATHEUS QUINTAL | Republicanos | 3,78% |
PROFESSORA LÍVIA MIRANDA | PCdoB (PT) | 3,48% |
PROFESSOR JOSÉ LUIZ | PSOL | 2,79% |
RAMON MELO | Avante | 2,32% |
EDUARDO SILVÉRIO | Podemos | 1,03% |
MARCOS NOVAES | PDT (PV) | 0,97% |
No primeiro turno, Bomtempo obteve 23,37% e Rossi 16,75%. O candidato do PSD ficou em terceiro com 16,61%, sendo o partido com maior número de votos para vereadores. Em seguida, tivemos o bolsonarista Elias Montes (PSL), com 11,40%; este último buscou apoio da família Bolsonaro e de deputados estaduais e federais do PSL, exibindo fotos com os mesmos em sua página e em redes sociais.[3]
Os outros partidos da esquerda confirmaram um resultado pouco expressivo: a coligação PC do B e PT ficou com 3,48% e o PSOL com 2,79%.
Em relação à formação da Câmara Municipal, o PSD confirmou sua força com a maior votação para vereador, conseguindo duas vagas. O PSB, vencedor com Bomtempo, ficou apenas em oitavo, com um representante. O PL de Rossi chegou em terceiro (2 eleitos). Vale observar a discrepância da quantidade de votos entre as chapas que foram para o segundo turno: a coligação PSB, Solidariedade e PROS obteve 19.559 votos, contra os 43.947 do PL, DEM, MDB, DC e PTB. Observando a futura composição da Câmara, será necessário um esforço da parte do prefeito eleito em sua articulação.
Acompanhando a tendência manifestada em outras cidades do país, o candidato a vereador mais votado foi Yuri Moura, do PSOL, com 3.742 votos. Ele chegou a ser anunciado como pré-candidato a prefeito, tendo sido o terceiro colocado em 2016 para prefeito e obtido 12.623 votos para deputado estadual em 2018.[4]
PETRÓPOLIS | ||
Partido | Vereadores Eleitos | N° Votos Partido |
PSD | 2 | 13636 |
DC | 2 | 13280 |
PL | 2 | 11271 |
Republicanos | 1 | 10947 |
MDB | 1 | 11089 |
PSC | 1 | 10913 |
PSL | 1 | 9111 |
PSB | 1 | 8600 |
Democratas | 1 | 8307 |
PSOL | 1 | 7336 |
PRTB | 1 | 7128 |
Solidariedade | 1 | 6769 |
Cidadania | 0 | 5675 |
PROS | 0 | 4190 |
NOVO | 0 | 3439 |
Avante | 0 | 3114 |
PC do B | 0 | 2678 |
Podemos | 0 | 2554 |
REDE | 0 | 1951 |
PSDB | 0 | 1605 |
PMB | 0 | 1327 |
PDT | 0 | 980 |
PT | 0 | 589 |
PV | 0 | 436 |
PTC | 0 | 301 |
Nova Friburgo
Se, de maneira geral, as eleições municipais deste ano mostraram uma tendência à consagração de candidatos conhecidos e partidos tradicionais, Nova Friburgo foi uma exceção. Tínhamos também a tentativa de reeleição do atual prefeito, Renato Bravo (Progressistas), eleito em 2016 com 28,23% dos votos. No entanto, este último alcançou apenas 3,70% neste pleito.
No boletim de setembro, salientamos que o fato de o município ter eleição em turno único traria um fator de maior incerteza. Este parece ter sido o caso: Johnny Maycon, engenheiro mecânico de 35 anos foi eleito com 23,28% pelo partido Republicanos. Vale ressaltar também o número elevado de candidaturas (16) e o espraiamento dos votos. Johnny tinha sido eleito vereador em 2016, tendo sua atuação classificada por um jornal local como de perfil “fiscalizatória”[5]. O eleito defendeu durante a campanha ferramentas para uma maior fiscalização e participação da população[6].
NOVA FRIBURGO | ||
Prefeito – Turno Único | ||
Candidato | Partido (coligação) | Resultado |
JOHNNY MAYCON (ELEITO) | Republicanos | 23,28% |
WANDERSON NOGUEIRA | PDT (PSB) | 18,52% |
DR. LUIS FERNANDO | PROS (PTB, DC) | 10,40% |
ALEXANDRE CRUZ | Cidadania (DEM, Solidariedade, Podemos) | 9,78% |
SÉRGIO LOUBACK | PSC (PL, PSDB) | 7,92% |
ANDRÉ MONTECHIARI | PRTB | 6,91% |
CLÁUDIO DAMIÃO | PSOL (PCB) | 5,32% |
DELEGADA DANIELLE BESSA | PSL (Patriota) | 4,43% |
ARTHUR MATTAR | Avante | 3,79% |
RENATO BRAVO | Progressistas (MDB) | 3,70% |
JUVENAL CONDACK | PSD | 2,32% |
SÍLVIA FALTZ | PT | 1,11% |
MARIOZAM DA RÁDIO | PTC | 0,89% |
CACAU REZENDE | PV | 0,67% |
LUCIDARLEN NOVAES | PMB | 0,64% |
HUGO MORENO | PSTU | 0,31% |
A esquerda posicionou-se de maneira fragmentada, com quatro candidaturas, tendo uma segunda colocação com a chapa PDT e PSB (18,52%); o PSOL, que tinha ficado em segundo em 2016 com 23,79%, ficou com apenas 5,32%; PT e PSTU ficaram com 1,11% e 0,31%, respectivamente. A candidada bolsonarista, a delegada Danielle (PSL) ficou com apenas 4,43% dos votos.
Já em relação aos vereadores, o Republicanos, do prefeito eleito com 22.277 votos, Johnny Maycon, ficou apenas com a oitava maior votação (5.341), com apenas um vereador. O campo da esquerda obteve quatro cadeiras na Câmara, sendo duas com o PSB e uma para PDT e PT.
A vereadora eleita pelo PT foi a mais votada: Maiara Felício, com 1.870 votos. Maiara pode ser vista como um caso exemplar da onda de candidaturas exitosas de pessoas engajadas em movimentos sociais. Mulher negra de 26 anos, é líder do coletivo Império das Nêgas, projeto cultural criado em 2015 e que envolve cultura, empreendedorismo, expressões artísticas, palestras e atendimento psicológico. O coletivo busca a inclusão, a promoção da cidadania, o combate ao racismo, a valorização da identidade e maior participação política da população negra[7].
NOVA FRIBURGO | ||
Partido | Vereadores Eleitos | N° Votos Partido |
DC | 2 | 7804 |
PSC | 2 | 7795 |
Progressistas | 2 | 7018 |
PSB | 2 | 6996 |
PL | 2 | 6465 |
Cidadania | 1 | 5552 |
PDT | 1 | 5431 |
Republicanos | 1 | 5341 |
PROS | 1 | 5107 |
PT | 1 | 4928 |
MDB | 1 | 3877 |
PSDB | 1 | 3819 |
PRTB | 1 | 3707 |
Avante | 1 | 3626 |
Patriota | 1 | 3563 |
PSL | 1 | 3167 |
Podemos | 0 | 2796 |
PSOL | 0 | 2582 |
DEM | 0 | 2419 |
PSD | 0 | 2312 |
PTB | 0 | 1154 |
PMB | 0 | 856 |
PTC | 0 | 752 |
PCB | 0 | 376 |
PV | 0 | 318 |
PSTU | 0 | 137 |
PCO | 0 | 12 |
Teresópolis
O atual prefeito, Vinicius Claussen (PSC), foi reeleito com uma considerável vantagem (56,17%), com Luiz Ribeiro (PSDB) em segundo (29,31%), repetindo o resultado da eleição de 2018 para a prefeitura. A orientação direitista mais marcada em Teresópolis, analisada no boletim de setembro, foi mais uma vez confirmada.
TERESÓPOLIS | ||
Prefeito – Turno Único | ||
Candidato | Partido (coligação) | Resultado |
VINICIUS CLAUSSEN (ELEITO) | PSC (PSD, Solidariedade) | 56,17% |
LUIZ RIBEIRO | PSDB (Podemos, PTB, PV, PSL) | 29,31% |
PEDRO GIL | Patriotas | 3,90% |
ALEX CASTELAR | DEM | 3,81% |
LEANDRO NEVES | Avante | 3,74% |
GERALDO MENEZES | PDT | 1,64% |
RODRIGO KOBLITZ | PSOL | 1,43% |
No entanto, o PSC não conseguiu transformar a vitória expressiva de Claussen (45.484 votos) em cadeiras na Câmara Municipal, tendo elegido apenas dois representantes (6.355 votos). Embora a votação tenha sido mais concentrada entre os dois primeiros colocados para prefeito, os votos para vereador foram mais espraiados. De maneira geral, o perfil mais direitista do eleitorado repercutiu tanto na futura composição da Câmara, quanto nos vereadores mais votados.
TERESÓPOLIS | ||
Partido | Vereadores Eleitos | N° Votos Partido |
DEM | 2 | 7180 |
PSC | 2 | 6355 |
Cidadania | 2 | 6313 |
PSDB | 2 | 6105 |
PMB | 2 | 6031 |
Progressistas | 1 | 5703 |
DC | 1 | 5646 |
Podemos | 1 | 4825 |
PSD | 1 | 4672 |
Solidariedade | 1 | 4357 |
Republicanos | 1 | 4064 |
PSL | 1 | 3927 |
Patriotas | 1 | 3434 |
PV | 1 | 3375 |
Avante | 0 | 2864 |
PSOL | 0 | 2725 |
PROS | 0 | 2557 |
PDT | 0 | 2231 |
PTB | 0 | 959 |
Conclusão
O resultado eleitoral na Região Serrana do Rio de Janeiro apresentou relativa diversidade em função dos contextos locais. Em Petrópolis, Rubens Bomtempo conseguiu ser eleito, barrando a reeleição de Bernardo Rossi. Em Nova Friburgo, o candidato outsiderJohnny Maycon venceu, apontando para uma busca de renovação por parte do eleitorado, elegendo um jovem vereador que evoca as imagens de fiscalização, inovação e maior participação população. Teresópolis repetiu o pleito de 2018, confirmando a escolha de então.
A hipótese central da apresentação do panorama político da região Serrana tinha sido a de um quadro de favoritismo dos partidos de direita tradicionais. As vitórias permitiriam que estes mantivessem suas posições até a eleição presidencial de 2022. Embora os resultados nacionais tenham confirmado, de fato, este cenário, nas cidades analisadas neste boletim, observou-se certa diversidade. Bomtempo representou uma conquista de um partido mais à esquerda do campo político, mas sendo uma figura já muito conhecida do eleitorado de Petrópolis. A votação para vereadores mostrou predomínio de partidos de direita, entre mais tradicionais e emergentes. Nova Friburgo optou pela renovação para o cargo de prefeito, com uma Câmara com quatro representantes da esquerda e a maioria de direita, entre tradicionais e emergentes. E Teresópolis confirmou seu perfil fortemente direitista.
A perspectiva de um campo bolsonarista desorganizado e sem força nas eleições municipais também foi confirmada. Como já dito, Bolsonaro demonstrou apoios discretos e pontuais, tendo seus “apadrinhados” sido derrotados nas capitais. Na Região Serrana, pode-se ver que o bolsonarismo rendeu no máximo um quarto lugar em Petrópolis.
Já na esquerda, repetiu-se o quadro de fragmentação de 2018. A eleição de Bomtempo em Petrópolis parece mais conectada à sua posição de liderança histórica na cidade, não refletindo em uma forte votação para vereador. Foi possível observar traduções do fenômeno nacional de bons resultados de quadros da esquerda no legislativo, elegendo os vereadores mais votados em Petrópolis e Nova Friburgo, com a presença de uma jovem liderança de um coletivo negro nesta última.
[1] https://theintercept.com/2020/11/17/esquerda-eleicoes-marielle-psol-boulos-pt/
[2] https://resultados.tse.jus.br/oficial/#/divulga-desktop/
[3] https://www.eliasmontes.com.br/c%C3%B3pia-quem-sou-1
[4] https://tribunadepetropolis.com.br/eleicoes-2020-tribuna-entrevista-o-pre-candidato-a-prefeito-yuri-moura-sobre-juventude
[5] https://avozdaserra.com.br/noticias/johnny-maycon-e-eleito-prefeito-e-camara-de-friburgo-tera-11-novos-rostos
[6] https://g1.globo.com/rj/regiao-serrana/noticia/2020/11/05/confira-a-entrevista-com-johnny-maycon-candidato-a-prefeitura-de-nova-friburgo-pelo-republicanos.ghtml